Cruz, Afonso (2010). Os Livros que Devoraram o Meu Pai. Alfragide: Caminho.
Integrado no Plano Nacional de Leitura, na categoria
de Leitura Autónoma (3.º Ciclo), Os
Livros que Devoraram o Meu Pai é um livro imperdível e que pode ser lido
por várias gerações.
Com um sentido de
humor notório e uma criatividade linguística que prendem o leitor nas primeiras
linhas, é impossível não se envolver pelo jovem Elias Bonfim, que nos conduz em
aventuras imperdíveis. Quando fez doze anos, Bonfim foi presenteado com a chave
do sótão, onde estavam os livros do seu pai, que desaparecera por um livro
adentro, A Ilha do Dr. Moreau. O pai
deixara instruções precisas, uma verdade revelada pela avó, cujas palavras
“vinham cheias de cabelos brancos”, na sua voz um pouco “amarrotada”. O pai não
fora apenas um colecionador, mas um leitor voraz, que acaba por incutir no
filho o interesse pela leitura.
Como seria este
sótão? Que livro começou Bonfim por ler? Afinal, até que ponto a personagem do
livro A Ilha do Dr. Moreau, Edward
Prendick, é real? E quem seria o Dr. Zirkov, “que usava uns olhos pequeninos
escondidos atrás duns óculos” e que também era mencionado no enigmático livro?
Como terá decorrido o encontro de Bonfim com o Dr. Zirkov? Muitas são as
questões que se vão colocando ao leitor à medida que avança na leitura, cada
vez mais absorvido, cada vez mais devorado pelo livro.
E quando, a par
destas aventuras emocionantes, há uma Beatriz na escola, cujos cabelos negros
“deslizavam pelos ombros, como o cheiro do café desliza pela chávena”, a quem
Bonfim não resiste, tal como o Bombo, o jovem das histórias chinesas.
Não posso terminar
sem apresentar um excerto cativante:
«Uma biblioteca é
um labirinto (…) Porque nós somos feitos de histórias, não é de a-dê-enes e
códigos genéticos, nem de carne e músculos e pele e cérebros. É de histórias
(…) Há inúmeros lugares onde um ser humano se pode perder, mas não há nenhum
tão complexo como uma biblioteca.»
Usa-se muito a
expressão “devorar um livro” para marcar aquelas obras que queremos ler até ao
fim sem parar. Foi muito divertido pensar na hipótese inversa, porque também o
livro pode devorar o leitor, prendendo-o e impedindo-o de deixar com facilidade
a história por que foi envolvido.
Além de escritor,
Afonso Cruz é também ilustrador, cineasta e músico da banda The Soaked Lamb. Nasceu em 1971, na
Figueira da Foz, e viria a frequentar mais tarde a Escola António Arroio, em
Lisboa, e a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, assim como o Instituto
Superior de Artes Plásticas da Madeira e mais de cinquenta países de todo o
mundo. Já conquistou vários prémios: Grande
Prémio de Conto Camilo Castelo Branco 2010, Prémio Literário Maria Rosa Colaço 2009, Prémio da União Europeia para a Literatura 2012, Prémio Autores 2011 SPA/RTP; Menção
Especial do Prémio Nacional de Ilustração
2011, Lista de Honra do IBBY – Internacional
Board on Books for Young People, Prémio
Ler/Booktailors – Melhor Ilustração Original, Melhor Livro do Ano da Time Out 2012 e foi finalista dos
prémios Fernando Namora e Grande Prémio de Romance e Novela APE e
conquistou o Prémio Autores para Melhor
Ficção Narrativa, atribuído pela SPA em 2014.
2 Comentarios
Célia, não conheço, mas fiquei muito interessada e vou comprar. Beijinhos
ResponderEliminarÉ ótimo e tem um livro, na minha opinião, ainda melhor - "Nem todas as baleias voam". Bjs
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