Ego na penumbra




Já nem sombra sou do que fui,
perdi-me na penumbra do meu ser,
sou alguém que nem sombra possui
e não se encontra num novo alvorecer.

Já não faço sombra a ninguém,
não me temam, sou o falso herói
sem história, essência e vintém,
já nem o ego me dói.

Resto de um rasto que se apagou
na estrada por onde nunca se andou,
nem a fímbria de um rio obscuro,
nem musgo a crescer num muro.

Fica o nada do que fui um dia,
um eu à procura do seu ego,
um eu nitidamente cego
a viver uma existência vazia.


                                        Célia Gil

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